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DA ESQUIVA À ABERTURA À EXPERIÊNCIA: COMO ABRAÇAR O DESCONFORTO E VIVER COM MAIS LIBERDADE

DA ESQUIVA À ABERTURA À EXPERIÊNCIA: COMO ABRAÇAR O DESCONFORTO E VIVER COM MAIS LIBERDADE

“Quando o sofrimento bate à sua porta e você diz que não há lugar, ele diz para você não se preocupar porque trouxe seu próprio banco.” Chinua Achebe

Você já percebeu como tentamos fugir dos sentimentos desagradáveis a todo custo? Seja mudando de assunto quando a conversa fica difícil, consumindo algo para “afogar as mágoas” ou até mesmo planejando excessivamente para evitar a ansiedade do improviso. Esses comportamentos têm um nome: esquiva experiencial. E, surpreendentemente, quanto mais os praticamos, mais limitamos nossa vida.

O que é esquiva experiencial e por que ela nos prejudica?

A esquiva experiencial acontece quando evitamos sentimentos, pensamentos ou sensações que nos causam desconforto. É aquele momento em que você cancela um encontro com amigos por medo da ansiedade social, mesmo querendo muito estar com eles.

É importante entender: a tendência para evitar experiências desconfortáveis é natural e faz parte do ser humano. Ela nasce da nossa capacidade de linguagem e é amplificada pela cultura que valoriza o “sentir-se bem” acima de tudo.

O problema? A esquiva funciona no curto prazo (sim, você sente alívio momentâneo), mas no longo prazo:

  • Impede que você viva de acordo com seus valores
  • Amplifica o sofrimento que você tanto quer evitar
  • Reduz sua capacidade de experimentar emoções positivas

Você sabia? Tentar não pensar em algo negativo faz com que você pense ainda mais naquilo. É como tentar não pensar em um elefante rosa – a primeira coisa que vem à mente é justamente a imagem de um elefante rosa!

Como reconhecer a esquiva experiencial no dia a dia

Muitas vezes, nem percebemos que estamos em modo de esquiva. Fique atento aos sinais:

  • Mudar de assunto quando conversas ficam emocionalmente intensas
  • Tornar-se superficial ou fazer piadas em momentos sérios
  • Negar a presença de problemas (“Está tudo bem!”)
  • Posturas físicas de tensão: apertar a mandíbula ou os punhos
  • Inatividade ou, ao contrário, hiperatividade
  • Planejamento excessivo para evitar imprevistos
  • Dificuldade de apreciar momentos positivos com medo de que acabem

Pergunte-se:

Meus comportamentos estão funcionando para evitar experiências internas de uma maneira inflexível? Quanto isso tem me custado em termos de qualidade de vida?

Da esquiva à disposição: um novo caminho

A alternativa à esquiva é o que chamamos de disposição experiencial – a capacidade de estar aberto às experiências internas, mesmo quando desconfortáveis, enquanto seguimos na direção dos nossos valores.

Como desenvolver a disposição experiencial em 3 passos

PASSO 1: Desenvolva consciência da sua evitação

Primeiro, observe seus padrões de esquiva. Quais são seus “métodos de controle” favoritos? Mesmo os aparentemente “saudáveis” podem ser formas de esquiva se a intenção for fugir da experiência.

PASSO 2: Examine a funcionalidade do controle

Pergunte-se: “O que tenho notado ao longo do tempo em termos de como essas estratégias funcionaram? Elas me aproximaram do que realmente importa na minha vida?”

PASSO 3: Use metáforas para capturar a experiência

Às vezes, uma imagem vale mais que mil palavras. A desesperança criativa não é sobre sentir-se sem esperança em geral, mas sim perceber que o controle excessivo não funciona – abrindo espaço para algo novo.

Provoque-se à disposição: uma nova forma de liberdade

A disposição é uma postura de estar “aberto” a toda experiência enquanto, simultaneamente, você escolhe seguir uma direção baseada em seus valores.

É importante entender que:

  • A disposição é uma ação, não um sentimento
  • Tem uma qualidade de TUDO ou NADA
  • NÃO É tolerar, resignar ou conformar-se
  • É permitir e estar presente com o que há para ser sentido

A disposição é experimentada como um processo contínuo, não como uma espera de que algo mude para melhor se formos tolerantes o suficiente.

O verdadeiro objetivo da disposição

O objetivo não é gostar do desconforto, mas enfraquecer comportamentos que servem como evitação experiencial. A disposição é uma habilidade a ser aprendida, não um conceito a ser entendido.

Como começar hoje mesmo

  1. Pratique a consciência plena (mindfulness): Reserve 5 minutos por dia para simplesmente observar seus pensamentos e sensações sem julgá-los
  2. Nomeie suas emoções: Quando sentir algo desconfortável, diga para si mesmo: “Estou notando que estou sentindo ansiedade agora”
  3. Faça uma ação alinhada com seus valores: Mesmo sentindo desconforto, dê um pequeno passo na direção do que importa para você

Transforme sua relação com o desconforto

Aprender a aceitar sensações difíceis não é fácil, mas é um caminho para uma vida mais rica e significativa. Quando deixamos de lutar contra nossos sentimentos, paradoxalmente, encontramos mais liberdade para viver de acordo com nossos valores.

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Lembre-se: o sofrimento é parte da vida, mas o sofrimento causado pela esquiva é opcional. Escolha a disposição e descubra uma nova forma de liberdade emocional.

REFERÊNCIAS

ACHEBE, Chinua. O Mundo se Despedaça. Londres: Heinemann, 1958.

HAYES, Steven C.; STROSAHL, Kirk D.; WILSON, Kelly G. Terapia de Aceitação e Compromisso: O Processo e a Prática da Mudança Consciente. 2. ed. Nova York: Guilford Press, 2011.

KABAT-ZINN, Jon. Viver a Catástrofe Total: Usando a Sabedoria do Corpo e da Mente para Enfrentar o Estresse, a Dor e a Doença. Nova York: Bantam Books, 1990.

PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança: Imitação, Jogo e Sonho, Imagem e Representação. Rio de Janeiro: LTC, 1978.

WEGNER, Daniel M. Ursos Brancos e Outros Pensamentos Indesejados: Supressão, Obsessão e a Psicologia do Controle Mental. Nova York: Guilford Press, 1989.

 

Sou formanda do último ano de Psicologia e aqui, você encontrará artigos de fontes confiáveis, dicas e reflexões que exploram o mundo da psicologia e o comportamento humano.

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